Domingo, 05 de outubro de 2025
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Foto : Reprodução / Origem Compostagem
Fatos-Notícias / 24/09/2025
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Por Safira Campos

Empreendedora transforma resíduos em adubo e evita envio de quase 400 toneladas a aterro em Cuiabá

Em Cuiabá, uma iniciativa criada às vésperas da pandemia tem mostrado que resíduos orgânicos podem se tornar solução em vez de problema. De 2020 a 2024, a empresa Origem Compostagem, fundada pela engenheira civil Yasmin Fonseca, evitou o envio de mais de 395 toneladas de lixo orgânico para o aterro sanitário da capital. O trabalho envolve residências, empresas e até eventos, em um serviço que alia coleta seletiva, educação ambiental e produção de adubo de qualidade.

A empreendedora conta que a ideia surgiu após uma experiência frustrada com uma composteira caseira. “As minhocas morreram e eu não conseguia dar conta. Pesquisando, descobri empresas em São Paulo e Florianópolis que faziam esse serviço e pensei: eu contrataria alguém para isso”, relembra.

Sem encontrar referências locais, buscou apoio no Centro Sebrae de Sustentabilidade, que já trabalhava com compostagem desde 2010. Com orientação técnica e estímulo, Yasmin pediu demissão, usou o acerto trabalhista para investir e abriu a empresa em fevereiro de 2020. Desde então, vive exclusivamente do negócio.

Hoje, a Origem atende 250 residências e 35 empresas em Cuiabá. A dinâmica funciona em regime de assinatura: os clientes recebem recipientes vedados para armazenar restos orgânicos, que são coletados semanalmente ou quinzenalmente. Famílias recebem mensalmente parte do adubo produzido, enquanto empresas ganham relatórios detalhados sobre o impacto positivo, incluindo a redução de gases de efeito estufa. Parte da produção também é destinada a agricultores familiares da região.

Apesar do crescimento, Yasmin avalia que ainda há muito desconhecimento sobre o tema. “Em empresas, percebemos que os colaboradores muitas vezes não sabem o que é reciclável, o que vai no orgânico, o que é rejeito. É cultural em Cuiabá colocar tudo no saco preto e pôr para fora”, diz. Para reverter essa lógica, a Origem promove treinamentos e visitas guiadas, mostrando que o processo não gera mau cheiro nem atrai animais.

(Foto: Rennan Oliveira / Prefeitura de Cuiabá)

A discussão sobre compostagem ganha relevância diante do volume de resíduos que Cuiabá precisa administrar. Apenas o Ecoparque Pantanal, localizado na região do Pedra 90, recebe entre 16 e 17 mil toneladas de resíduos sólidos por mês, transportadas diariamente por cerca de 120 caminhões coletores. A fração orgânica corresponde a mais da metade desse total.

O diretor-geral da Empresa Cuiabana de Zeladoria e Serviços Urbanos (Limpurb), Felipe Wellaton, reconhece que esse é um dos maiores desafios da cidade. “Nosso desafio é desviar o máximo de material para a cadeia da reciclagem e do reaproveitamento, latinhas, papelão e, principalmente, a fração orgânica, que corresponde a mais de 50% do volume total. Quanto menos toneladas chegarem ao aterro, mais economizamos e mais podemos investir em praças, parques e infraestrutura urbana”, afirmou em visita técnica ao Ecoparque em maio deste ano.

Segundo Wellaton, a prefeitura estuda a implantação de unidades de compostagem em parceria com instituições e empresas privadas. “O orgânico hoje é mais da metade do nosso resíduo. Se destinarmos tudo para compostagem, vamos reduzir drasticamente o volume de chorume e emissão de gases no aterro, além de economizar no custo de disposição final. É um investimento que traz retorno ambiental e financeiro”, completou.

De olho na mecanização

(Foto: Arquivo Pessoal)

Atualmente, o pátio de compostagem da Origem recebe cerca de 15 toneladas de resíduos por mês, tratados de forma manual. O próximo passo é mecanizar o processo para aumentar a capacidade, acelerar a produção de adubo e ampliar a comercialização, com planos de distribuir o produto em pontos de venda na capital.

O trabalho rendeu reconhecimento. Em 2024, a Origem Compostagem ficou em segundo lugar no prêmio Mulher de Negócios do Sebrae, na categoria microempreendedoras. “Para nós é uma honra. Esse tipo de visibilidade ajuda a mostrar que resíduos têm valor e podem gerar impacto ambiental e social positivo”, afirma Yasmin.

Com a mecanização em vista e uma rede de clientes em expansão, a empreendedora acredita que o momento é propício para consolidar a compostagem como alternativa viável ao modelo tradicional de descarte. “É mais prático, mais fácil e bom para todo mundo”, resume.

O trabalho realizado pela empresa pode ser conferido pelo seu perfil no Instagram @origemcompostagem.

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