Quinta, 23 de outubro de 2025
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Agenda de Eventos / 21/10/2025
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Da Redação / Com Assessoria

Lute como uma gorda

Na próxima terça-feira, 28 de outubro, às 19h30, no Cine Teatro Cuiabá estreia o filme “Poesia Documentada: Lute como Uma Gorda”, produzido a partir de seleção no Edital de Fomento Audiovisual – Diretor Estreante, da Lei Paulo Gustavo, da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel/MT), tem Ju Queiroz estreando como diretora e aborda a temática da “gordofobia”, a partir da história de vida de Malu Jimenez. A produção audiovisual surgiu da amizade entre as duas, na Feira de Sustentabilidade de Chapada dos Guimarães, ainda em 2018, e aparceria se afinou com ensaios fotográficos de Malu no cerrado do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, tornando-se uma referência visual para a tese e o livro. A proximidade entre ambas rendeu 12 ensaios, alguns premiados em festivais tanto no Brasil, quanto fora dele. Agora essa conexão entre as duas artistas extrapola e une diferentes linguagens para o cinema.

No mesmo dia e horário, o filme será também exibido no canal do YouTube @Documentário-LuteComoUmaGorda e ficará disponível por 24h. Os ingressos são gratuitos e estão disponíveis no sympla, pelo seguinte link: https://www.sympla.com.br/evento/mostra---documentario-lute-como-uma-gorda/3172712 .

Protagonista, co-diretora e assessora do filme, Malu Jimenez, atualmente é referência, pesquisadora e ativista brasileira da temática. Pesquisando a gordofobia há mais de 10 anos, Malu defendeu sua tese de doutorado com o mesmo título “Lute como Uma Gorda”, no Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), no ano de 2020, trabalho que depois virou livro best seller da área e que já está em sua segunda edição.

 A poesia documentada, como o próprio nome já diz, entre performance, artes plásticas, fotografia e sonoplastia, traz um hibridismo que rompe completamente com a linguagem acadêmica. E o faz de maneira poética, projetando novos contornos de luz e sombra sobre um tema invisibilizado historicamente, sim, que traz muita dor também, contudo, a partir de um viés artístico e afetuoso, baseado num desejo de transformação social e de valorização e respeito aos corpos e “corpas” gordas.
“A minha vida inteira trabalhei com arte. Não consigo entender conhecimento separado de arte. No doutorado já fazia um trabalho de fotografia de resistência com a minha parceira Ju Queiroz, na Chapada dos Guimarães, onde a gente trazia o meu corpo como central no cerrado do parque nacional, de trazer esse corpo inclusive como obra de arte. Não me vejo uma pesquisadora que não seja preocupada com a transformação social, por isso que me nomeio como pesquisadora ativista e que não esteja fazendo arte daquilo que estou apreendendo sobre o meu corpo, o meu corpo no mundo, sobre o que eu quero falar para o mundo”, enfatiza Malu.

Esse desejo de Malu em trabalhar o tema da gordofobia para além dos muros universitários e a partir de múltiplas linguagens, ganhou coro e potência com o olhar sensível e poético de Ju Queiroz. Segundo a diretora, quando conheceu Malu, nunca tinha ouvido falar sobre o tema da gordofobia e nunca tinha fotografado uma mulher gorda maior. Foi a partir do encontro com Malu, que viu seu olhar transformado para entender o próprio corpo.
“O primeiro encontro com a Malu já foi um momento super disruptivo. Rolou uma conexão muito forte entre a gente e ela foi explicando sobre a pesquisa e fui me entendendo nesse processo. A vida inteira achei que fosse uma mulher gorda e ali, naquele encontro, entendi que não. Fiquei muito tocada com o debate e a pesquisa. Sou filha de um homem gordo que fez a cirurgia bariátrica e quando entendi o que era gordofobia, entendi tudo o que meu pai viveu e como essa opressão me atravessava de forma muito profunda. A partir disso, abracei a causa”, destaca Ju.
O que explica a escolha de Malu participar como co-diretora da produção:

“Acho importante pensar como a gente faz as coisas. Como estamos fazendo esse documentário, a tese, o livro? Os processos precisam ser revistos. É uma questão de representação e representatividade, que a maioria das pessoas não entenderam ainda. Não adianta só o meu corpo estar no documentário, a gente precisa perceber e entender se esse corpo está num lugar de tomadas de decisões e isso vale para todas as situações da vida”, pondera Malu.
Para Ju Queiroz, trabalhar o tema em um documentário “é super necessário” pois “a gordofobia ainda segue invisibilizada”:

“Nosso papel é também dar visibilidade para a pesquisa acadêmica de vida da Malu. A gente pensou nesse documentário não só como uma forma de educar e informar, mas que provoque sensações e reflexões. Precisamos olhar e ouvir o que as pessoas gordas têm a dizer. Meu papel enquanto apoiadora do Lute como uma Gorda, parceira da Malu, é trazer visibilidade e colocar este corpo, tão marginalizado, num lugar de poder, num lugar central”.
Malu, que tem formação em teatro de rua, realizou uma performance para o filme, rodada no Centro de Cuiabá, que teve continuidade no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.
“Venho do teatro de rua e fazer uma performance na rua, com o meu corpo ali, trazer um debate do incômodo, da falta da acessibilidade para o espaço e debate públicos é super importante. São muitas marcas nos nossos corpos de não caber. Não é somente uma única vez que você não entra no ônibus, não passa na catraca ou não se senta na cadeira. Sua vida inteira, tentando ocupar lugares e as pessoas dizendo que “você não serve para vir aqui”, porque não tem lugares para você. São marcas e dores que a gente, de alguma forma, neste documentário está ressignificando, mas fazendo pensar também quais são os lugares que todo mundo não cabe, porque sempre vai ter um lugar que você não cabe. Quais são esses lugares que você não cabe? Já parou para pensar?” Questiona Malu.
Equipe Afinada e com olhar sensível para o tema
De acordo com Ju, enquanto diretora estreante, o processo de filmagens e de produção da obra foi “bastante desafiador”, mas também interessante, com leveza e afeto. “Foi um processo muito bacana, interessante, a gente colocou o corpo da Malu no centro de Cuiabá para fazer uma performance e acho que isso impactou não só a nossa equipe, mas todas as pessoas que passaram por ali e puderam ver a performance acontecendo”.
Com 21 minutos, o documentário tem co-direção de Rodrigo Zaiden, que também assina o roteiro e direção de performance. De acordo com o multi-artista, a narrativa e a performance do filme, foi construída tendo como fio condutor uma questão central: “onde cabem nossos corpos?”
“Essa questão do caber não é só o caber físico espacial, mas também representa o não caber simbólico. A partir dessa questão orientadora, fomos adicionando camadas de sentimentos, situações, reflexões, sensações. A partir da experiência de vida de Malu, da direção coletiva de Ju e da parceria incrível de Tami, conseguimos imprimir uma estética que flerta com as artes plásticas, dando vida, cores, tons e concretude às ideias, narrativas, figurinos e cenários da obra”, relembra Zaiden.
A produção executiva do filme, que conta com acessibilidade em libras, é realizada por Caju Paschoalick, que também é o produtor e designer de som, da trilha sonora e masterização. O artista destaca a sintonia da equipe durante os sets de filmagem e a finalização do filme. Para ele, o trabalho será um marco para o cinema brasileiro.
“Não estamos acostumados a ver as “corpas” gordas tendo protagonismo, no centro das imagens. O que fizemos foi compor uma equipe bastante afinada, que voltou seus esforços e saberes no sentido de valorizar uma estética feminina que em tempos mais remotos era considerada a mais bela esteticamente, mas que com o tempo foi relegada. O público pode esperar um filme que vai marcar e transformar o olhar de quem for assistir. Tenho certeza que o filme será um marco na produção mato-grossense e brasileira”.
A equipe conta ainda com Direção de Produção de Francieska Dinarte; Produção de Arte de Tamii Gondo Lage, que também assina Maquiagem, caracterização e foi produtor da pintura do Macacão utilizada na performance por Malu. Assistência de arte é de Kami Amorim.
A equipe de fotografia foi comandada por Ju Queiroz e João Pedro Regis, na direção de fotografia, e contou com João Pedro Regis como operador de Câmera e com Nathália Miranda na segunda Câmera. Leila Sayuri realizou a Assistência de Câmera; Wyllow Oliveira operou Drone. Still e making of ficou por conta do trio Anne Mathilde, Pedro Mutz e Maurício Mota; e o Logger, Pedro Mutz. Já Montagem, Colorização e Finalização, é de Maria Rita Costa; e desenho de som, mixagem, masterização e trilha sonora original, de Caju Paschoalick.

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